sábado, 16 de março de 2024

O desejo de algo

 

Os piores tempos 

Já passaram da berlinda

Foram os melhores momentos 

Das nossas vidas


Cada ano dura menos

Do que doze meses

Uma dose de pensamento 

Dobra num dia desses


Parece trágico 

Não querer nada 

E o desejo de algo

É o eixo da estrada 


Eu não sei quantas vezes 

Fui sem ter vivido

Eu não sei quantos deuses

Ficam me ouvindo 


Os piores tempos 

Não serão os dias futuros 

Foram senhores ensinamentos 

Pontes no lugar de muros


Vivo como posso, 

Agora nunca é cedo

Porque tenho ideias

Do nada e maturadas


Eu me julgo e me jogo

Jamais deixo que o receio

Do erro me impeça 

Do projeto, da jangada


Eu não sei quantas vezes 

Serei fora de senso

Eu não sei quantos deuses

Ficarão me vendo.



domingo, 10 de março de 2024

Thiago Magalhães

 

Thiago Magalhães 

É meu amigo

Desde as manhãs 

Adolescentes 

Do milênio passado 

Quando pegava carona

Apartamentos vizinhos

Fã de Madonna

Thiaguinho me apresentou 

Nelson Rodrigues 

A vida como ela é 

Boca de ouro

O beijo no asfalto 

Passávamos textos

Durante as aulas matinais 

Escrevíamos peças 

Teatrais

Vencedoras de festivais

A culpa é da sociedade 

Ou os laços sanguíneos 

Não são as fronteiras do amor

Editor e dublador 

Meu amigo pequeno 

Fica gigante no palco 

É um ator nato

Flor do teatro 

Meu amigo Thiago

Dos Santos Magalhães 

Desde as manhãs 

Adolescentes 

Do milênio passado.



sexta-feira, 8 de março de 2024

Oito de março

 

Aqui, nesta terra,

Oito de março

Não é feriado 

Nem dia de mera


Homenagem à graça, 

À maternidade e à beleza

Das mulheres, das musas

Inspiradoras da natureza 


É uma diária escaramuça

Eu mesmo me policio 

Para erradicar o machismo

Arraigado pela cultura 


O oitavo dia de março 

É uma data dedicada

À memória da luta, da batalha 

Das heróicas mulheres


Por melhores condições de trabalho

Pelo direito ao aborto 

Em prol da igualdade do salário 

Contra o assédio sexual e feminicídio 


Tais assuntos antigamente 

Eram escondidos 

Entre quatro paredes

Agora estão sendo discutidos


O oito de março 

É um dia para lembrarmos

Do combate permanente 

Das guerreiras de quem somos originários. 



quinta-feira, 7 de março de 2024

Uma infração de segundos

 

Não tenho disciplina por virtude
E sim como reação em virtude
Da minha negligência
Contemplativa urgência

Concilio para não sucumbir
Às minhas cóleras reprimidas
Já me feri nas férias daqui
E noutras esferas e vidas

Um singular minuto
De reconciliação vale
Mais do que anos de amizade
Aquele momento único

Feliz ônus novo
A poesia é uma infração de segundos
Vi no meio do povo
Mas tampouco quis me ler

Pareço gentil, quase bobo
Para velar minha escassez,
Banco o prudente quando não boto fé
E penso na mais inclemente conjectura

Minha compulsão, minha loucura
Pela ortografia, tipo assim,
Não é uma condecoração
De uma mente harmônica

Mas todo um combo
De simulação concebido por mim
Para perfumar o pandemônio
Do meu ânimo, do meu coração

Só sou pontual
Para que não saia no jornal
Que o tempo alheio
Não me importa

O amor não é um estado de espírito
Mas um signo, um segredo
Um significado, uma joia
O amor é um estalo disso, dissolvido.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Caso não saiba

 

É impossível

Para uma pessoa

Aprender aquilo 

Que ela pensa 

Que já sabe

É um desperdício 


Quem mata o tempo

Desata a corda toda

Massacra a si mesmo

É uma pena

É um desastre

É um estrupício


Caso não saiba

Eduque-se logo

A existência passa

Sem truque, é um relógio 

Que não se repete

Café não é petróleo 


Tudo vira ilógico

Se você não se percebe

Entre remorsos e crises

A vida tem fases breves

Quase nada tem reprise

Abrace-se e abra os olhos.



sábado, 2 de março de 2024

O baile da alienação

 

O ser humano sempre 

Está com disposição 

De negar o que não entende

A sociedade moderna esquece


Que o mundo não pertence 

A uma única geração

O meu desejo é que pudesse

Aniquilar todos os pensamentos


Que são potentes venenos 

Ao meu êxito, velho texto,

Mas obtenho um tipo de satisfação 

Sendo indulgente com o que penso


Eu não quero dançar 

Antes nem depois da canção 

Apenas danço enquanto durar

O baile da alienação 


Quem se conhece 

Ingressa no universo 

Dos deuses, uma espécie 

Em extinção aos néscios


Eu não danço na prévia 

Nem no enterro dos ossos

Só danço durante a festa

Quando não sou feto nem fóssil.



quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

O presente


A arte do vaticínio

É muito difícil 

Sobretudo 

Sobre o futuro


Jamais vou ser 

Mais do que sou 

Tampouco desejarei 

Não aprendi a viver


Todos os dias aprendo

Desconheço tudo, meu amor

Apenas sei ir vivendo

Se o que faço


É engraçado 

Não preciso 

Ser engraçado 

Para fazer isso


Nenhum agrado

É um mal em si mesmo

Mas certas coisas capazes 

De tecer enlevos


Trazem consigo mais males 

Do que prazeres

Embora tente o resgate 

Daqueles tempos inocentes


O passado está em fuga

Com os deleites

Em direção a uma rua

Inacessível e escura


O que espero está ausente

Se não foi, não apareceu 

Porém é meu o presente

O presente é meu.