Há quem reze tanto
Que se recusa
A crer nos encantos
Prefere o nunca
O passado é um lugar
Pulsado de referência
E não de residência
Outrora fica bem atrás
Eu já estive lá
E não habito mais
Às vezes visito tal feudo
E me retiro cedo para não pernoitar
Amadurecimento não é santidade
Mas congruência com as necessidades
O passado é uma cidade milenar
Não há possibilidade de busca
Com o desajuste da bússola
O passado é um bosque do interior
Automóveis coloridos
Cujos nomes ainda sei de cor
Tão longe os tempos idos
Antigamente era um pântano
Um estado de pânico
Anestesia e delírio
Toda doença conta uma história
Ah, meus vinte anos de boy...
A velha personalidade está morta
O renascimento dói
É o que tem de ser
E também foi em Niterói
Minha voz importa
Minhas palavras têm o poder
Da inspiração e do contato
A antiga pessoa foi embora
Quando eu era pirralho
Estava perto do pretérito
Em preto e branco
A vida é um longo momento
O passado que fique esperando
Eu não volto mais a ser pequeno
Com ciência e fé
Alcanço o desejo
E o sonho na dança das marés
Não só quando me deito
Ausência presente
A paz não fica lá fora
Frieza ardente
Ela está onde mora
Quem sabe sua origem
Prossegue firme
Quando a coragem é maviosa
O violento vira sublime
O passado é anterior
Quando a estação fica pronta
Em sintonia com o seletor
De frequências, o que se pensa
São vibrações, são ondas
Os pensamentos não nascem
Dentro das nossas mentes
O passado é uma fase
Agora é um extenso presente
Sem talvez nem quase
Na funilaria da cabeça
O passado ficou na saudade
Agora é o auge, beleza?
Eu tenho a permissão
Para permanecer com firmeza
E liderar com o coração
Audácia para transformar
Arrependimento em inspiração
Quando a alma se aprontar
As coisas acontecerão.